Pensei em colocar Chico Buarque ou Cazuza pra tocar enquanto te escrevia,
mas isso seria irremediavelmente romântico, então desisti. Porque eu
não quero clima de romance para escrever sobre o fim de um romance,
seria uma piada de péssimo gosto da minha parte (e para comigo mesma).
Está tocando Be what it's gonna be, então. Começando por THE NEXT TIME AROUND e
sua quase que imperceptível frase “E onde a sorte há de te levar, saiba, o
caminho é o fim, mais que chegar”. Porque eu gosto de músicas sortidas e tudo
acaba fazendo um sentindo, até o que não tem explicação, não é mesmo? Eu sei
que é, você é o mestre do inexplicável.
Não vejo como escrever isso, não sei por onde começar, mas o pior de tudo é
ver que tanto faz tanto fez a ordem das minhas palavras, porque no fim das contas,
o que estarei fazendo é, na verdade,terminar. Uma história de dois, uma possibilidade
de futuro juntos, um casal,pais de filhos com bochechas rosadas e cabelos negros encaracolados, sepultando o que já faleceu e eu nem sequer havia notado.
Porque você não me avisou quando o seu amor morreu, então fiquei nutrindo a
minha vontade de você e minha saudade sozinha, por nós dois. Eu fui tão forte que
não suportei tanto... O todo. Esse mundo ficou mais difícil depois que você desistiu, partiu.
Você preencheu as páginas dos meus diários, a inspiração para começar um livro, poesias, frases, textos,músicas, sorrisos, choros,...Lembranças fortes o bastante para terem me deixado
amar pela segunda vez. Amor, que coisa forte, né? Provavelmente, nunca me amou,
deve apenas ter sentido uma paixãozinha duradoura, mas tudo bem. Eu amei, você
foi muito amado, foi amado histórica e docemente por mim, então, sinta-se feliz
por isso. Ser amado é sempre uma dádiva e você a conseguiu aos dezesseis! Que sortudo,
hein rapaz?
A ironia nunca caiu muito bem em mim, você sabe... Me conhece. Conhece porque somos muito parecidos, meio gêmeos em alguns sentidos. Isso é lindo, não posso negar...
Lindo como tudo entre nós. Perfeito. É tanta magia,que até quando estou desistindo, tudo parece bonito, feito num conto de fadas. Mas,princesas não desistem de príncipes nos livros “contofadianos”, então,considere-me uma princesa fracassada que não sabe o que está fazendo no século XXI. Não sei que tipo de príncipe você é, porque não te conheço tão bem quanto me conhece, mas depois tente definir por si próprio que tipo de príncipe representa.
E acredite: príncipe você é. Disso eu tenho certeza!
Pensando como uma bruxa má, a única coisa aparentemente ruim que eu desejaria,
seria que as cartas que lhe escrevi virassem pó, que pegassem fogo num passe de mágica
e que seus restos fossem levados pelo vento para o infinito. Não faz mais sentido
guardar minhas palavras deslumbradas, repletas de um amor consistente e legítimo.
Considero-o até cruel por mantê-las ainda junto de si. Peço-lhe: Queime-as. Todas. As
minhas cartas são pedaços de mim, logo, como não lhe pertenço mais, gostaria
que estar também ganhassem a liberdade que merecem. Estaremos mortas em seu
universo particular, desaparecidas do seu amanhã. É isso que quero, é o que
peço, com toda a boa educação e clemência.
Não lhe desejo mal algum, lhe desejo uma vida feliz, da forma que julgar ser isto. E não quero que sinta raiva de mim, porque nada lhe fiz de mal, não o prejudiquei em momento algum, eu só soube amá-lo e amá-lo, sem pausas ou quedas. Não haveria de ter razão que o fizesse odiar ou jurar maldades a uma mulher que só quis lhe fazer
um homem feliz e que agora, depois de tudo e tanto, ainda deseja sua felicidade
(seja lá com quem for). Se não pode me amar, lhe impeço de me odiar. Compreendo que este é um direito que possuo, o de defesa, então não pretendo desperdiçá-lo.
Foram quase que dois anos de um romance à distância. Foi uma tentativa vitoriosa, não? Não fracassamos, mantivemos um equilíbrio raríssimo para dois seres tão ímpares quanto nós, não é mesmo? Ainda não acredito como conseguimos ficar juntos. Com nossas personalidades, bom, isso foi uma baita façanha! Sorte que sabíamos que armas possuíamos e soubemos utilizá-las muito bem.Temos nossos encantos, não é? A loucura e a poesia, esse ultra-romantismo com uma pitada “cazuzana” nos faz verdadeiras obras-primas em formato de
ciladas. Sabemos magoar, agora usamos esse veneno um no outro, água-viva que
consegue eletrocutar a si própria porque o aquário é pequeno demais. Vai contra
a natureza, mas acontece. Lembrei de uma música que te enviei, mas você sequer
comentou ou ligou. Chama-se OUTRA VIDA, do Armandinho. Gostaria que o que a
letra diz fosse real, para nós...
Está tarde e eu vejo que já é chagada a hora de começar a parar de escrever para você.
Porque se eu não me lembrar disso, continuo escrevendo sem parar, pela madrugada
saudosa de minhas recordações suas. Chega de saudade, eu quero te esquecer. Te
perder de todas as formas possíveis no meu caminho para frente e para cima. Não
porque você não é bom, mas porque você não é meu. Não te quero pela metade,
pessoas como nós não se contentam com pouco, não é mesmo? “Migalhas dormidas do
teu pão”. Não, infelizmente, raspas e restos não me interessam. Então eu
preciso partir de nós, te deixar ir, ainda que já tenha ido há tempos, sem mim.
Isso era pra ser uma carta, mas não quero mais que veja minha caligrafia. Não quero que
sinta mais meu cheiro. Não quero que sinta a minha pele. Eu quero distância do feitiço que ainda exerce sobre mim, frágil poeta e escritora de romances com reticências no fim.
Será meu primeiro romance com ponto final. E no capítulo 15 haverá um fim que será de
fato o fim.Quem sabe estendo até o capítulo 16, o que acha? Não responda, mortos não falam
e na minha existência eu não o quero mais presente como se estivesse vivo batendo junto de meu coração. Não poderá mais pulsar em mim, correr em minhas veias ou derramar por meus olhos.
E no final de tudo, deixo claro que decidi não encontrá-lo na próxima semana. Não irei procurá-lo.Se eu encontrá-lo será inevitável que eu me desmanche de amores por você. Bastariam frases e sorrisos então sua voz selaria o magnetismo infalível que me arrebatou e eu seria sua outra vez. Aprisionada a esse amor que não tem saída, que não é de mão dupla. Seria pôr tudo a perder, em prol de ser divertimento temporário. Não. Não quero um amor que morra velho e doente, tentando resistir. O nosso romance terminará num susto,de uma vez por todas, no último ponto final que esta singela cartinha comportar. Seria brutalidade pedir que lembre de mim, mas sinto que te esquecer será impossível (embora eu vá tentar ao máximo). Rezo para que na minha vida não apareçam apenas novas paixões, quero amar outra vez, preciso amar novamente,porque paixão é pouco pra tanto de mim! Aconteça o que acontecer, aconteceu. Até quem sabe nunca mais.
Por: Chica Blanco